quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Lições do Bom Samaritano


Na Bíblia há uma história muito conhecida, registrada em Lucas, capítulo 10, a partir do versículo 25. Refiro-me a uma parábola que Jesus proferiu ao ser indagado por um mestre da lei, uma autoridade na lei mosaica.
Jesus não era bem vindo entre eles, os sábios. Prova disso é a ocorrência de vários conflitos entre Jesus e fariseus, saduceus ou com os escribas. A causa de não aceitarem Jesus é que Ele os ignorava, dava mais atenção aos pobres que viviam à margem do judaísmo. Essa atitude do Mestre incomodava os religiosos e, para piorar, Jesus falava muitas coisas que eles não gostavam de ouvir.
Em uma dessas ocasiões, um escriba ou mestre da lei resolveu pôr Jesus à prova. “Mestre, que farei para herdar a vida eterna?” Mesmo conhecendo a lei, a pergunta foi muito tola, pois deu a entender que o escriba conhecia, porém não vivia a lei. Ao ser questionado por Jesus, o homem falou da lei com muita facilidade, pois conhecia a lei de cor e salteado. Depois de ouvi-lo, Jesus simplesmente respondeu: “Então faça isso e viverás”. O Mestre sabia que ele não vivia o que falava. Ao se sentir encurralado com o conselho de Jesus, acaba caindo numa grande armadilha ao perguntar quem era o seu “próximo”.
Jesus responde com uma narrativa, a parábola do Bom Samaritano, para deixar uma lição não somente para o escriba, mas para todos nós. Jesus não define quem é o homem que descia. Não o identifica como identificou os demais personagens, simplesmente para que nós em nossos dias possamos entender que não é raça, cor, cultura ou classe social que define o nosso “próximo”, significando que qualquer pessoa que estiver necessitada de ajuda deve ter a nossa atenção.
Em certo momento, Jesus acrescenta personagens, dois símbolos da religião judaica, o sacerdote e o levita, que na época estavam mais preocupados com o ritualismo e com o cerimonial do que com a vida prática. Provavelmente eles tinham vários motivos para não atender o necessitado, mas nenhum desses motivos servia como desculpa para deixar o necessitado abandonado à beira do caminho.
Jesus então coloca um samaritano na parábola. Quem conhece a história sabe que o mestre da lei ficou intrigado com isso. A propósito, Jesus escolheu um desprezado samaritano para ilustrar o correto tratamento que se deve dar ao próximo. Mesmo sendo odiado pelos judeus, foi o samaritano quem parou para dar auxílio ao necessitado.
O samaritano, mesmo desvalorizado, tinha um coração amoroso. E a imagem do homem naquela situação foi a fonte da íntima compaixão que o motivou. É que ele sabia colocar-se no lugar do moribundo, algo que os dois personagens anteriores não tinham condições de fazer. A prioridade para o samaritano agora era auxiliar, ajudar, estender a mão, correndo os mesmos riscos, na mesma estrada perigosa, em situação de vulnerabilidade, mas reconhecendo que naquele momento o seu próximo precisava dele. Usou aquilo que tinha para o seu próprio uso, repartiu, gastou, deixou o conforto da sua cavalgadura e seguiu a pé. Detalhe importante: não foi aplaudido por ninguém.
Após finalizar a estória, Jesus perguntou ao mestre da lei: “Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?”. Confesso que eu esperava outra resposta. Ele poderia ter dito “o samaritano”. Entretanto, mais uma vez ele provou não estar preparado para reconhecer o próximo, pois não teve coragem de identificá-lo, e disse: Aquele que usou de misericórdia.
Assim como o sol não escolhe para quem quer brilhar, o cristão não pergunta para quem deve fazer o bem, pois fazê-lo deve ser parte integrante de sua natureza. O amor benigno não reconhece fronteiras, nem faz distinção entre pessoas, mas socorre sem vacilar a qualquer um que tenha necessidade;
Com essa ilustração maravilhosa, não há quem não entenda que, para herdar a vida eterna, não basta saber a lei, mas é necessário praticá-la. Ali estava um mestre da lei que não conhecia o caminho. Na realidade ele queria saber o que fazer para “merecer” a vida eterna. Só que a vida eterna não está relacionada a merecimento.
Pergunto a você, querido leitor: o que tens feito para herdar a vida eterna?

Pr. Leandro Silva

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

O Senhor é o meu pastor


Salmo 23

A sociedade pós moderna nos influencia a sermos cada vez mais arrojados. Se estivesse à nossa disposição escolhermos as características de algum animal, provavelmente desejaríamos as mais marcantes, como ferocidade, velocidade, tamanho, rugido etc. Mas quando lemos o Salmo 23, nos deparamos com um homem chamado Davi, que lutou contra o urso e o leão, e ainda matou o gigante. Entretanto, parece que se contradiz ao escrever as seguintes palavras: “O Senhor é o meu pastor”. É sabido que nenhum outro animal necessita de pastor, a não ser a ovelha.
Não podemos afirmar se Davi escreveu o referido Salmo quando ainda era um jovem pastor ou na sua velhice. O certo é que, olhando ou lembrando as ovelhas, ele se deu conta de que, para ter um pastor, era necessário apresentar as características de ovelha. Então ele se projeta para debaixo do cajado de Deus, se coloca na posição ao ver que as ovelhas são dependentes do seu pastor.
Basta uma breve procura na internet para encontrarmos algumas curiosidades sobre esse animal fraco, indefeso e dependente de um protetor, para encontrarmos as seguintes características: extremamente dócil, não tem garras, não tem dentes fortes, não tem veneno, obediente, porém ingênuo em certos pontos, pois se perde do grupo por simples distração, não sabe se defender dos predadores, mas, em contrapartida, é muito inteligente, chegando a reconhecer a voz do seu pastor entre mil vozes.
São 1400 raças de ovelhas no mundo, que se adaptam às condições do local onde vivem. Algo que achei de extrema importância: elas se automedicam. Ao sentirem algum desconforto, procuram as plantas que curam. E, para encerrar, foi o primeiro mamífero a ser clonado. Essas características trazem alguma semelhança com os verdadeiros cristãos? Esses traços são visíveis em sua vida?
Analisando o que vimos acima, posso afirmar que ninguém tem o direito de dizer as palavras de Davi com a mesma convicção se não se considerar ovelha. Nenhum de nós tem o direito de afirmar que o Senhor é o nosso pastor se não nos enquadrarmos nas características desse dócil animalzinho. A experiência de Davi junto às ovelhas lhe indicava que elas eram necessitadas de proteção, porém, ao colocar-se sob o cajado de Deus, ele tinha a certeza de que nada lhe faltaria, assim como ele próprio fazia em relação às suas ovelhas.
As ovelhas do Sumo Pastor não têm falta de nada. Tudo o que a ovelha necessita está ligado a Ele. O Pastor conhece o olhar, o balido, e sabe o que ela precisa. É com esse conhecimento que Davi escreve: “nada me faltará”.
O que necessitamos, que não nos pode faltar? Seguindo o raciocínio de Davi no Salmo 23, encontramos o que a ovelha necessita diariamente:
a) ALIMENTO. Deus provê alimento para todos os animais, sejam eles dóceis, feras, domesticados ou selvagens, seja onde há fartura ou no deserto. Como não dará o alimento aos seus filhos? Ele provou ser o Deus da provisão lá no deserto, enviando o maná e as codornizes, mesmo para um povo que murmurava. Ele não vai deixar faltar o pão na tua mesa.
b) ÁGUAS TRANQUILAS. O pastor não leva suas ovelhas a águas correntes e bravias, mas a lugares onde elas podem hidratar-se com segurança. Essas águas tranquilas são símbolo do Espírito Santo, que nos limpa, que nos enche de alegria e manda embora as tristezas e angústias. Ele nos guia mansamente em busca do Espírito, através do seu grande amor.
c) DESCANSO. As ovelhas do Bom Pastor podem descansar, porque Ele cuida de tudo. Quando somos crianças, ainda dependentes do nosso pai, podemos dormir tranquilos, porque temos a certeza de que ele é o provedor, cuida das portas e das janelas se estão bem fechadas, ao meio dia a comida está na mesa, e assim podemos passar o dia brincando porque tem alguém que coordena todas as coisas.
d) REFRIGÉRIO. É inevitável que passemos momentos de tristezas. Nem sempre o nosso dia é como gostaríamos, às vezes estamos fracos, porque somos humanos e pecadores. Mas Deus é quem refrigera a nossa alma, que traz a palavra certa no momento certo, que nos faz enxergar o futuro e descansar sabendo que Ele é o nosso pastor. O refrigério vem através de uma palavra, de um louvor ou de um momento de oração, portanto, pode ser encontrado a partir de algo que está à disposição de todos nós.
e) AS VEREDAS DA JUSTIÇA. O cristão verdadeiro sente prazer em obedecer, ou seja, não obedece por obrigação, mas por amor, constrangido pelo exemplo do Mestre. A justiça de Deus é perfeita, nela não há injustiça, como paradoxalmente ocorre com a justiça dos homens. Se errarmos, experimentaremos as respectivas consequências na medida certa. Se formos corretos, seremos recompensados também na medida certa. Note-se que o Salmista usa o plural ao referir-se a “veredas”, mostrando que o caminho que devemos seguir é o que Deus preparou para nós, e não aquele que pensamos ser o melhor.
f) SEGURANÇA. O Salmista não diz que não haverá o mal, mas afirma que a ovelha não teme mal algum. Deus sempre nos avisa. Portanto, não teremos argumentos para culpar Deus se formos por caminhos tortuosos. Do contrário, se andarmos na sua luz, Ele nos protege. É notório que autoridades importantes se sentem seguras com os seus guarda-costas bem armados e tripulando carros blindados. E você, como se sente, tendo como protetor o ser mais poderoso do universo?
Eu sei que o amigo leitor é uma ovelha, tem características de ovelha, dependente do Sumo Pastor. Então você tem direito a todos os benefícios do Salmo 23. Deus o abençoe!
Pr. Leandro Silva

terça-feira, 13 de agosto de 2019

O processo de fabricação do vaso


Contudo, Senhor, tu és o nosso Pai. Nós somos o barro; tu és o oleiro. Todos nós somos obra das tuas mãos.
Isaías 64:8

Quando olhamos um vaso não imaginamos o processo que o barro passou para ser transformado em um objeto decorativo ou de uso pessoal. Na antiguidade os vasos tinham várias utilidades. Havia vasos para honra e para desonra (2Tm 2.20-21). Eram usados nas mesas como usamos hoje os copos e taças, mas também eram usados para o serviço doméstico e até como sanitários.
A Bíblia nos compara a vasos de barro, devido à forma da sua fabricação, o seu valor, assim como a sua utilidade.
O processo de fabricação inicia lá no brejo, quando o oleiro vai em busca do barro/argila. Ele olha aquele material ainda com um aspecto feio, malcheiroso, sujo, cheio de raízes e resíduos, mas já nesse momento consegue visualizar o vaso pronto, bonito e útil para alguma finalidade específica. Isso porque ele conhece a qualidade, a substância que tem aquela massa aparentemente inútil.
Levado para a olaria, o barro enfrenta vários processos, entre eles o descanso, limpeza, prensa e amassadeira, quando o barro é pisado, esquecido, cortado e amassado. Mas esse procedimento é necessário para que, ao ser trabalhada sobre a roda do oleiro, a massa esteja uniforme, sem sujeiras, sem pedras, sem bolhas e no ponto para ser moldada.
Note-se que no início do processo o barro não apresenta um aspecto bonito e limpo, mas de muita sujeira. E todos que têm contato com ele acabam sujando suas mãos e suas roupas, inclusive o local onde ele está sendo trabalhado também tem essas características.
Após o descanso do barro, já extraídos todos os resíduos e o excesso de água, o oleiro inicia a fabricação do vaso. Após girar a roda por um tempo, lá está o vaso que, depois de secar mais um pouco, vai para o forno a uma elevada temperatura, e então o oleiro tem a alegria de olhar e se orgulhar da sua obra.
A análise da fabricação do vaso nos traz muitos ensinos. Porém quero falar de apenas cinco situações que passamos para nos tornar um vaso de honra nas mãos do nosso Deus.
1. Escreveu o salmista, no Salmo 40: Tirou-me dum lago horrível, dum charco de lodo… Deus sabe o valor daquele a quem Ele próprio estende a mão e tira da vida de pecado. Deus sabe o que pode ser feito através daquele barro, e tem um propósito para ele quando passar por todas as etapas do amadurecimento. Isso trará dor, desprezo, perseguição. Deus sabe disso, pois Ele conhece o nosso futuro. Por isso Ele já visualiza o vaso que será construído. Não será um vaso qualquer, porque tudo o que Deus faz é bom e em tudo há proveito.
2. E o Deus de toda a graça, que em Cristo Jesus vos chamou à sua eterna glória, depois de haverdes padecido um pouco, ele mesmo vos aperfeiçoará, confirmará, fortificará e fortalecerá (1Pe 5.10). O processo que o barro enfrenta na olaria de Deus é doloroso, muitas vezes esquecido pelos homens, pisado pelos orgulhosos, amassado pelos que se dizem amigos, mas tudo isso é necessário, são etapas que transformam o barro em uma massa homogênea, um barro completamente moldável por Deus. Quando Ele o levar para a roda, não vai ter dificuldades para fazer conforme Sua vontade.
3. Ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres (Ef 5.11). O modelo e o tamanho do vaso não são projeto humano; “Ele designou”. Sendo assim, nós, os seus servos, não temos o direito de escolher o que queremos ser no Reino de Deus. Vemos muitas pessoas escolhendo cargos, correndo atrás de títulos, se especializando para alcançar objetivos ministeriais, cantando igual ao seu ídolo, pregando como o famoso pregador, o que não é escolha sua. Espera em Deus, que Ele está te formando conforme o seu querer. Deus sabe qual será a utilidade do vaso. Também precisamos saber que Deus não fabrica vasos por linha de produção, Ele se dedica a fabricar cada um, especialmente. Ele vê algo especial e diferente em cada um. Por isso não queira ser igual a ninguém, pois Deus destinou tempo exclusivo para te fazer um vaso especial e único.
4. Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? (1Co 6.19). Lembra que para amolecer o barro e amassá-lo se faz necessário muita água durante o processo. Barro endurecido é impossível de ser moldado. A água, nesse caso, é o símbolo do Espírito Santo. Ninguém suportaria ser pisado, esquecido e amassado sem a ação do Consolador. Ele está presente em todos os momentos da tua vida, infiltrado em cada centímetro para que nada se perca, mas é inevitável que, quando o barro é deixado para descansar, a água comece sair lentamente, pois o barro não segura a umidade.
Mas tem o momento do forno, a última batalha do vaso, que é a prova de fogo. Mas assim como o quarto homem esteve na fornalha com os três moços, Ele estará contigo. Ao ser tirado do forno, algo muda no vaso, acontece uma grande transformação, e a água que não permanecia no barro, agora pode ser derramada em abundância, porque a forma côncava do vaso é própria para manter o Espírito Santo dentro de si. E as paredes do vaso agora não são mais barro, mas se tornaram uma espécie de cerâmica, impossibilitando a fuga da água. Nesse momento o homem estará desfrutando da total companhia do Espírito Santo, pois tornara-se casa, templo dEle.
5. Apenas duas são as ferramentas usadas por Deus para a fabricação do vaso na roda. Nenhuma outra é necessária para que o vaso saia perfeito. Após o pedaço de barro ser colocado “no centro” da vontade de Deus e começar a rodar, as mãos do Oleiro serão colocadas no interior do barro, fazendo as mudanças necessárias de dentro para fora, até que o vaso ganhe forma. E nesse processo não pode faltar água em abundância.
Não se deixe ser moldado por ninguém. Vaso que se preze segue o mesmo processo de fabricação dos tempos de Jeremias, não havendo necessidade de mais do que as mãos do Oleiro e água. Muitos querem fabricar obreiros por aí, mas não têm o mesmo resultado. Portanto, entregue-se nas mãos de Deus, com o auxílio do Espírito Santo, e verás onde você chegará!
Querido, você que está lendo este artigo, saiba que todo o processo de fabricação é doloroso. Mas ao atingir o status de vaso, verás que as etapas da tua vida espiritual e ministerial valeram a pena, pois você aprendeu muito, e hoje está sendo usado como um vaso para honra. Nenhum oleiro gostaria de produzir vasos para descarte, mas para usá-los com muito carinho e orgulho do trabalho realizado. Você é especial, você é um vaso exclusivo!

Pr. Leandro Silva