
Jesus
não era bem vindo entre eles, os sábios. Prova disso é a
ocorrência de vários conflitos entre Jesus e fariseus, saduceus ou
com os escribas. A causa de não aceitarem Jesus é que Ele os
ignorava, dava mais atenção aos pobres que viviam à margem do
judaísmo. Essa atitude do Mestre incomodava os religiosos e, para
piorar, Jesus falava muitas coisas que eles não gostavam de ouvir.
Em
uma dessas ocasiões, um escriba ou mestre da lei resolveu pôr Jesus
à prova. “Mestre, que farei para herdar a vida eterna?” Mesmo
conhecendo a lei, a pergunta foi muito tola, pois deu a entender que
o escriba conhecia, porém não vivia a lei. Ao ser questionado por
Jesus, o homem falou da lei com muita facilidade, pois conhecia a lei
de cor e salteado. Depois de ouvi-lo, Jesus simplesmente respondeu:
“Então faça isso e viverás”. O Mestre sabia que ele não vivia
o que falava. Ao se sentir encurralado com o conselho de Jesus, acaba
caindo numa grande armadilha ao perguntar quem era o seu “próximo”.
Jesus
responde com uma narrativa, a parábola do Bom Samaritano, para
deixar uma lição não somente para o escriba, mas para todos nós.
Jesus não define quem é o homem que descia. Não o identifica como
identificou os demais personagens, simplesmente para que nós em
nossos dias possamos entender que não é raça, cor, cultura ou
classe social que define o nosso “próximo”, significando que
qualquer pessoa que estiver necessitada de ajuda deve ter a nossa
atenção.
Em
certo momento, Jesus acrescenta personagens, dois símbolos da
religião judaica, o sacerdote e o levita, que na época estavam mais
preocupados com o ritualismo e com o cerimonial do que com a vida
prática. Provavelmente eles tinham vários motivos para não atender
o necessitado, mas nenhum desses motivos servia como desculpa para
deixar o necessitado abandonado à beira do caminho.
Jesus
então coloca um samaritano na parábola. Quem conhece a história
sabe que o mestre da lei ficou intrigado com isso. A propósito,
Jesus escolheu um desprezado samaritano para ilustrar o correto
tratamento que se deve dar ao próximo. Mesmo sendo odiado pelos
judeus, foi o samaritano quem parou para dar auxílio ao necessitado.
O
samaritano, mesmo desvalorizado, tinha um coração amoroso. E a
imagem do homem naquela situação foi a fonte da íntima compaixão
que o motivou. É que ele sabia colocar-se no lugar do moribundo,
algo que os dois personagens anteriores não tinham condições de
fazer. A prioridade para o samaritano agora era auxiliar, ajudar,
estender a mão, correndo os mesmos riscos, na mesma estrada
perigosa, em situação de vulnerabilidade, mas reconhecendo que
naquele momento o seu próximo precisava dele. Usou aquilo que tinha
para o seu próprio uso, repartiu, gastou, deixou o conforto da sua
cavalgadura e seguiu a pé. Detalhe importante: não foi aplaudido
por ninguém.
Após
finalizar a estória, Jesus perguntou ao mestre da lei: “Qual,
pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas
mãos dos salteadores?”. Confesso que eu esperava outra resposta.
Ele poderia ter dito “o samaritano”. Entretanto, mais uma vez ele
provou não estar preparado para reconhecer o próximo, pois não
teve coragem de identificá-lo, e disse: Aquele que usou de
misericórdia.
Assim
como o sol não escolhe para quem quer brilhar, o cristão não
pergunta para quem deve fazer o bem, pois fazê-lo deve ser parte
integrante de sua natureza. O amor benigno não reconhece fronteiras,
nem faz distinção entre pessoas, mas socorre sem vacilar a qualquer
um que tenha necessidade;
Com
essa ilustração maravilhosa, não há quem não entenda que, para
herdar a vida eterna, não basta saber a lei, mas é necessário
praticá-la. Ali estava um mestre da lei que não conhecia o caminho.
Na realidade ele queria saber o que fazer para “merecer” a vida
eterna. Só que a vida eterna não está relacionada a merecimento.
Pergunto
a você, querido leitor: o que tens feito para herdar a vida eterna?
Pr.
Leandro Silva