terça-feira, 2 de março de 2021

Dois ungidos

 


(1 Sm 16.14-23)

 

                No capítulo dez e versículo seis do primeiro livro de Samuel, lemos que Saul foi ungido rei de Israel. O Espírito de Deus o tomou e transformou. Naquela ocasião ele também profetizou. Samuel ainda acrescentou no versículo sete do mesmo capítulo: “Quando estes sinais se cumprirem, faze o que achar melhor, porque Deus é contigo”.

                Saul tinha autoridade e “carta branca” com Deus. Tudo o que fizesse Deus abonaria. Porém, progressivamente, esse homem foi perdendo o Espírito que estava nele, e, na medida que isso acontecia, um espírito mau o possuía, substituindo nele o bem pelo mal. Suas atitudes então começaram a causar sérios problemas.

                Josefo apresenta Saul como possuído pelo demônio, alguém que perdeu a coragem e a grandeza mental. Que se tornou fraco e tolo, temeroso e medroso, cheio de inveja, suspeita, ira e desespero, totalmente ao contrário do que era quando surgiu nas páginas da Bíblia Sagrada.

                Champlin observa que o texto hebraico não acrescenta a palavra “maligno” após a expressão “espírito” que atormentava Saul, mas na septuaginta, vulgata e outras versões, como as usadas no Brasil, aparece. Ainda acrescenta que, naquela ocasião, coisas más também eram atribuídas a Deus, tendo como exemplo os deuses pagãos que respondiam com maldades quando não eram agradados. A teologia dos hebreus era fraca sobre causas secundárias, afirma Champlin. E é por isso que por vezes nos pegamos a pensar como um espírito mau seria enviado por Deus, que é bom e justo.

                Com certeza a maior parte dos casos de possessão requer um convite da pessoa, uma brecha que se deixa ou uma porta aberta através da degradação moral, drogas, alcoolismo e muitas coisas que falamos sem medir consequências. Nesse caso podemos incluir Saul, o rei que começou bem, mas a vida de violência, guerras, assassinatos e poder quase absoluto lhe corrompeu a alma, além de ter violado propositadamente os mandamentos de Deus. Tudo isso corroborou para o resultado desastroso da vida de Saul.

                Satanás aproveita para pescar em águas turbulentas, e a situação mental de Saul abria-lhe muitas brechas para efetuar sua obra maligna a ponto de a situação ser evidenciada entre seus servos, que provavelmente começaram a observar as ações do rei e estranharam suas atitudes. Uma pessoas guiada por um mau espírito de forma alguma poderia liderar com sabedoria

                A música tem servido de grande auxílio no decorrer da história, em casos de grande emoção, problemas mentais, etc. Os filmes ainda hoje usam a música para influenciar os sentimentos de seus espectadores. Cenas de filmes e novelas sem música teriam outro ou nenhum significado para quem assiste. A música é usada inclusive nas chamadas terapias musicais para a cura de vários tipos de enfermidades.

                Os servos de Saul, sabendo disso, propuseram a ele: envia um de seus servos a buscar alguém que toque harpa, e logo um deles já apontou Davi e listou suas virtudes (1Sm 16.18): sabe tocar harpa, forte, valente, homem de guerra, fala com sensatez, boa aparência, e o Senhor é com ele.

                A partir deste versículo começam a diminuir as diferenças entre os dois ungidos (Saul e Davi), surgindo então os contrastes. Davi, que estava na posição de pastor de ovelhas, o que não era nenhuma humilhação, pois filhos de ambos os sexos das mais ilustres famílias desempenhavam tal ofício devido à pouca oferta de trabalhos na época, agora experimenta uma mudança radical, migrando de entre as ovelhas diretamente para a corte, para junto do rei, transformando-se assim em alguém que teria a incumbência de proporcionar paz, através da música, ao homem mais importante do reino, tornando-se  ainda o escudeiro do rei.

                Deus às vezes eleva as pessoas diretamente ao nível que Ele deseja, assim como aconteceu com José, de prisioneiro a governador. Com Davi foi diferente. Primeiro serviu para depois ser servido, e serviu alguém que inclusive atentou contra a sua vida. Realmente viveu um tempo de aprendizado, conhecendo a vida na corte, estabelecendo alianças, amizades. E como escudeiro de Saul, Davi aprendeu a arte da guerra. Não podemos esquecer que esse tempo, matar era uma das condições para ser um bom rei, e nesse quesito o jovem ultrapassou o seu senhor, matando seus dez milhares, enquanto Saul, seus milhares.

                A Bíblia registra que Saul gostou muito de Davi. Jovem era esperto, ágil, e com o auxílio do Espírito de Deus que o havia tomado se adiantava às ordens de Saul. Sendo assim, o rei pediu a Jessé que o deixasse ficar com ele, pois era uma excelente companhia, principalmente nos momentos em que o espírito mau dele se apossava.

                Pessoas que possuem boa comunhão com Deus, de caráter e que têm virtudes, são excelentes para estarem perto, para um bom relacionamento, para amizades, em especial aquelas que nos aproximam de Deus. E Davi era essa pessoa que fez a diferença na vida de Saul.

                Poderíamos tirar muitas outras lições deste texto, mas o Espírito Santo pode te revelar mais ao ler esse capítulo. Deus abençoe a tua vida, leitor, que o Espírito de Deus seja teu companheiro em todos os momentos e circunstâncias, para que se cumpram as promessas de Deus em nossas vidas, assim como aconteceu a Davi.

 

Pr. Leandro da Silva

domingo, 19 de abril de 2020

Os caminhos dos homens e os caminhos de Deus

Porque os meus pensamentos não são os pensamentos de vocês, e os caminhos de vocês não são os meus caminhos”, diz o Senhor.
“Porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim os meus caminhos são mais altos do que os seus caminhos, e os meus pensamentos são mais altos do que os pensamentos de vocês. Is 55.8-9

Nos momentos de crise é quando a maioria daqueles que creem em Deus buscam refúgio em Sua Palavra. Procuramos textos bíblicos para nos localizarmos, para termos argumentos e para entendermos o porquê das coisas que acontecem, o que nos traz certa calma e direciona nossos pensamentos para que a alma não se entristeça.
Pelo texto bíblico acima, se bem interpretado, concluímos que Deus está nos dizendo: acalme-se, tranquilize-se, o que vocês estão enfrentando é apenas uma pedra no caminho, é um momento de dificuldades que vai passar, não pensem que isso vai durar a vida toda, pois os pensamentos de vocês não vão além do agora, e os meus são eternos.
“Não vos conformeis com este mundo...” (Rm 12.2). Para praticar esse conselho de Paulo, é só colocarmos as nossas mentes a serviço de Deus e entenderemos o que Deus tem para nós. Ele tem algo muito maior, mais sublime, um caminho aplanado e com sinalizações bem definidas.
O mundo está em aflição, a população mundial está agitada. Mas o povo de Deus não se permite ser formatado com as pressões do presente século. Não pense como o mundo, não siga o mesmo caminho, permaneça no caminho que Deus preparou para você, e, com certeza, você não será decepcionado.
É complicado viajar com alguém que procura dar opinião no trajeto em que escolhemos para trafegar? É difícil ser orientado por quem não conhece a estrada? Agora imagina Deus, o Deus dos céus, que conhece todas as coisas, que conhece o futuro, ter de tolerar o homem tomando seus próprios caminhos sem saber o que vem depois. É necessário que todo cristão aprenda isto, os caminhos e pensamentos de Deus não são os mesmos que os nossos.
Entender isso é humilhar-se na presença dEle, é reconhecer que estamos muito aquém dos planos de Deus e que, definitivamente, não somos páreo para Ele.
É necessário reexaminar nossos sentimentos humanos e nos voltarmos para a escola de Deus. É necessário nos tornarmos como crianças (Mt 18.3) e entendermos que nossas expectativas são muito pequenas ao olharmos para Deus. Quando comparamos duas pessoas adultas, fazemos uma espécie de paralelo, mas quando uma criança olha para um adulto, ela entende que está em nível inferior. Assim nós precisamos entender que não devemos traçar paralelos entre Deus e nós.
Entre os caminhos divinos e os caminhos dos homens existe um abismo. Eles não levam para o mesmo lugar. Mas nós, como temos livre arbítrio, devemos escolher se queremos andar em caminhos inferiores e decidir a nossa caminhada, ou fazer como aponta o salmista no Salmo 37.5: “Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele, e ele o fará”.
Os caminhos do homem são práticas pré-estabelecidas, são atitudes que geralmente copiamos de outros, são práticas aprendidas com nossos pais através da cultura em que estamos inseridos. E os pensamentos humanos são apenas conceitos, ideias que ouvimos durante nossa caminhada terrena. Porém Deus age na esfera do sobrenatural, do eterno, Ele não vive nem pensa nessa atmosfera inferior, comum dos homens, pois os seus caminhos são superiores aos nossos.
O coração do homem pode fazer planos, mas a resposta certa dos lábios vem do Senhor” (Pv 16.1). O homem traça o seu caminho, mas, se quiser, se tiver interesse em saber se está realmente correto e conforme a sua Palavra, ouça a Deus, pois é dEle que vem a resposta certa.
Tudo o que estamos vivendo hoje são caminhos de Deus. Se o homem não aceitar andar nele, não será forçado a fazê-lo; poderá seguir seu próprio caminho. Entretanto, aquele que aceitar caminhar pelos caminhos do Senhor chegará ao destino preparado por Deus para todos aqueles que o aceitarem.
Não fique ansioso, não esteja temeroso, Deus é quem controla o mundo. O poder está em suas mãos. Tudo o que está acontecendo é permissão de Deus, são caminhos do Senhor, permaneça nEle e chegará ao destino que o próprio Deus preparou para você.
Como poderemos comparar os nossos pensamentos e nossos caminhos com os de Deus?
Acredite, Deus tem algo muito maior. Portanto espere passar todas essas coisas e desfrute do que Deus preparou para nós. Após a tempestade vem a bonança.

Pr. Leandro da Silva

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Lições do Bom Samaritano


Na Bíblia há uma história muito conhecida, registrada em Lucas, capítulo 10, a partir do versículo 25. Refiro-me a uma parábola que Jesus proferiu ao ser indagado por um mestre da lei, uma autoridade na lei mosaica.
Jesus não era bem vindo entre eles, os sábios. Prova disso é a ocorrência de vários conflitos entre Jesus e fariseus, saduceus ou com os escribas. A causa de não aceitarem Jesus é que Ele os ignorava, dava mais atenção aos pobres que viviam à margem do judaísmo. Essa atitude do Mestre incomodava os religiosos e, para piorar, Jesus falava muitas coisas que eles não gostavam de ouvir.
Em uma dessas ocasiões, um escriba ou mestre da lei resolveu pôr Jesus à prova. “Mestre, que farei para herdar a vida eterna?” Mesmo conhecendo a lei, a pergunta foi muito tola, pois deu a entender que o escriba conhecia, porém não vivia a lei. Ao ser questionado por Jesus, o homem falou da lei com muita facilidade, pois conhecia a lei de cor e salteado. Depois de ouvi-lo, Jesus simplesmente respondeu: “Então faça isso e viverás”. O Mestre sabia que ele não vivia o que falava. Ao se sentir encurralado com o conselho de Jesus, acaba caindo numa grande armadilha ao perguntar quem era o seu “próximo”.
Jesus responde com uma narrativa, a parábola do Bom Samaritano, para deixar uma lição não somente para o escriba, mas para todos nós. Jesus não define quem é o homem que descia. Não o identifica como identificou os demais personagens, simplesmente para que nós em nossos dias possamos entender que não é raça, cor, cultura ou classe social que define o nosso “próximo”, significando que qualquer pessoa que estiver necessitada de ajuda deve ter a nossa atenção.
Em certo momento, Jesus acrescenta personagens, dois símbolos da religião judaica, o sacerdote e o levita, que na época estavam mais preocupados com o ritualismo e com o cerimonial do que com a vida prática. Provavelmente eles tinham vários motivos para não atender o necessitado, mas nenhum desses motivos servia como desculpa para deixar o necessitado abandonado à beira do caminho.
Jesus então coloca um samaritano na parábola. Quem conhece a história sabe que o mestre da lei ficou intrigado com isso. A propósito, Jesus escolheu um desprezado samaritano para ilustrar o correto tratamento que se deve dar ao próximo. Mesmo sendo odiado pelos judeus, foi o samaritano quem parou para dar auxílio ao necessitado.
O samaritano, mesmo desvalorizado, tinha um coração amoroso. E a imagem do homem naquela situação foi a fonte da íntima compaixão que o motivou. É que ele sabia colocar-se no lugar do moribundo, algo que os dois personagens anteriores não tinham condições de fazer. A prioridade para o samaritano agora era auxiliar, ajudar, estender a mão, correndo os mesmos riscos, na mesma estrada perigosa, em situação de vulnerabilidade, mas reconhecendo que naquele momento o seu próximo precisava dele. Usou aquilo que tinha para o seu próprio uso, repartiu, gastou, deixou o conforto da sua cavalgadura e seguiu a pé. Detalhe importante: não foi aplaudido por ninguém.
Após finalizar a estória, Jesus perguntou ao mestre da lei: “Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?”. Confesso que eu esperava outra resposta. Ele poderia ter dito “o samaritano”. Entretanto, mais uma vez ele provou não estar preparado para reconhecer o próximo, pois não teve coragem de identificá-lo, e disse: Aquele que usou de misericórdia.
Assim como o sol não escolhe para quem quer brilhar, o cristão não pergunta para quem deve fazer o bem, pois fazê-lo deve ser parte integrante de sua natureza. O amor benigno não reconhece fronteiras, nem faz distinção entre pessoas, mas socorre sem vacilar a qualquer um que tenha necessidade;
Com essa ilustração maravilhosa, não há quem não entenda que, para herdar a vida eterna, não basta saber a lei, mas é necessário praticá-la. Ali estava um mestre da lei que não conhecia o caminho. Na realidade ele queria saber o que fazer para “merecer” a vida eterna. Só que a vida eterna não está relacionada a merecimento.
Pergunto a você, querido leitor: o que tens feito para herdar a vida eterna?

Pr. Leandro Silva