terça-feira, 7 de maio de 2019

Como nos dias de Noé


                Durante o sermão profético, registrado no livro de Mateus, Jesus lembra os tempos de Noé (Mt 24.36-44), quando exorta os seus discípulos à vigilância. O Mestre faz um paralelo entre os dias que se aproximam do arrebatamento com a época em que Noé construíra a arca.
                Analisando bem o texto, podemos nele enquadrar a maioria dos cristãos atuais. Todos creem no arrebatamento, entretanto não acreditam que somente serão arrebatados os que estiverem vigilantes e preparados para o momento mais importante da igreja, e, se acreditam, suas atitudes não reforçam essa ideia. Basta observar suas vidas, suas redes sociais, seu vocabulário e a forma como se comportam na igreja, quando vão.
                Naqueles dias havia algo que impediu que o povo acreditasse na mensagem de Noé. Não por acaso Jesus associou aquele acontecimento com o arrebatamento. Os livros teológicos apontam quatro motivos que levam à descrença na mensagem de Cristo, tornando o modo de vida dos crentes atuais muito semelhante ao comportamento do povo nos dias do dilúvio. São eles: carnalidade, mundanismo, ignorância humana e falta de prontidão.
                Carnalidade corresponde aos apetites do corpo, ou seja, a tudo o que se contrapõe ao que é espiritual. Ser carnal é estar em uma posição antiespiritual, que separa o homem de Deus. Carnalidade também é a sensualidade e lascívia. Essas coisas têm tirado muitas pessoas da presença de Deus, seja pelo modo de agir, vestir ou pensar, muitas vezes sem achar que está errado perante Deus.
                O mundanismo, muito falado nos púlpitos das igrejas, é a perda dos valores cristãos e a pressão sofrida pelos crentes à ilusão do secularismo que, através de conceitos, comportamentos e práticas anticristãs, tem se infiltrado na igreja, fazendo com que os cristãos sejam influenciados pelo mundo, quando deveria ser ao contrário. O secularismo no simples modo de pensar é um estilo de vida que se inclina para o profano, deixando de lado o que é sagrado.
                A ignorância humana é a falta de entendimento daquilo que se conhece; não é que o homem não saiba, mas é o agir como se não soubesse. Significa simplesmente ignorar que o arrebatamento um dia acontecerá, mesmo conhecendo as profecias.
                A falta de prontidão é o descaso, a falta de preocupação. Para sermos bons soldados, precisamos estar sempre em prontidão. Lembremo-nos das virgens loucas da parábola de Jesus. Elas estavam com as prudentes, porém despreparadas, até que chegou o momento em que o tempo acabou.
                Nos dias de Noé, os homens eram insensíveis às profecias. E o que vemos na atualidade? Tudo o que se refere à volta de Jesus é ignorado, porém qualquer profecia que aponte uma melhora na vida terrena, como bênçãos financeiras, bênçãos ministeriais ou sucesso no casamento, é muito bem vinda. Essas coisas são boas, são excelentes e não são pecado, mas estão tirando o foco principal, que é a preparação, a vigilância.
                O versículo 38 nos leva a entender que havia uma falta de respeito à mensagem de Noé. Mesmo ouvindo a pregação, o povo continuava na carnalidade, no mundanismo, e ignorando suas palavras. Não havia temor, não aceitavam a repreensão.
                Nesta semana circulou uma frase nas redes sociais que dizia: “No passado o pastor pregava a verdade e as pessoas mudavam de vida; hoje elas mudam de igreja”. Isso define muito bem o que acontecia nos dias de Noé.
                O teor do versículo bíblico que mencionei acima registra que as pessoas “comiam, bebiam, casavam-se e davam-se em casamento”. Então pergunto, qual o erro dessas práticas? Onde está o pecado ao comer, beber e se casar? A mensagem que Jesus queria passar era de que eles estavam vivendo uma vida normal e secular, ignorando a Deus e as palavras de Noé. Parece que seria mais lógico se Jesus tivesse dito que enquanto Noé construía a arca o povo matava, roubava e se prostituía. Porém Jesus quer nos dizer que apenas levar uma vida normal significa não estar preparado. O Senhor exige mais do que levar uma vida normal, apenas não cometendo pecados. Exige que estejamos vigilantes, tendo comunhão com Deus. São as práticas que achamos não ser pecado que estão nos tornando crentes mundanos e carnais.
                Vivemos tempos em que as coisas lícitas estão nos destruindo, e nós achamos correto. A terra estava cheia de violência, de crimes hediondos, assim como acontece hoje. Aliás, nós criamos níveis de pecados, nos autoenquadramos em menos pior, melhor que os outros, nem tão pecador, e achamos que assim seremos salvos. Ficamos na dependência da misericórdia de Deus, da bondade de Deus, e esquecemos que Deus é justo, e que no céu não entra pecado.
O versículo 39 diz que “eles não perceberam”. Até quando congregaremos com pessoas desapercebidas? Que estão há três ou quatro décadas dentro da igreja, perdendo tempo, perdendo os prazeres do mundo, e não alcançarão o gozo eterno? A vergonha de confessarem seus erros é que os tornaram céticos.
É preciso alertar essa geração que cultua conosco, evangeliza conosco, chora conosco, mas segue destino eterno diferente. O arrebatamento será surpreendente, assim como aconteceu no dilúvio. Talvez houvesse pessoas que acreditassem, entretanto, por não estarem preparadas, foram levadas pelas águas.
Ainda há tempo. Deixe de lado tudo o que te distancia do Senhor, esteja preparado, pois a porta da arca ainda está aberta.

Pr. Leandro Silva

segunda-feira, 25 de março de 2019

O tribunal de Cristo


Todo cristão autêntico sente saudades do céu, tendo como seu maior desejo deixar as coisas terrenas e se encontrar com Cristo nos ares. Entretanto, por falta de conhecimento ou por anseio de deixar as coisas daqui, esquecem que antes de tudo passaremos pelo julgamento de nossas obras.
                Paulo escreveu assim aos irmãos de Corinto: Pois todos nós devemos comparecer perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba de acordo com as obras praticadas por meio do corpo, quer sejam boas quer sejam más...” (2 Cor 5.10 – NVI). Portanto, é clara a informação. Ninguém está isento dessa etapa, inclusive aqueles que já partiram. E continua o Apóstolo: “...os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares... (1 Tess 4.16-17). Este não é o julgamento final, naquele somente as pessoas condenadas participarão, neste somente salvos.
                A Bíblia não revela informações que muito gostaria de afirmar aqui. Por exemplo, o que receberemos nesse julgamento? Qual a recompensa das nossas boas obras? E qual a sentença das obras más?
                Encontramos textos sagrados que falam das coroas que aguardam os crentes: Coroa da glória (1 Pe 5.4), Coroa da vida (Tg 1.12), Coroa incorruptível (1 Cor 9.25), e Coroa da Justiça (2 Tm 4.8). A Bíblia também nos fala de galardão: “... e o meu galardão está comigo, para dar a cada um segundo a sua obra” (Ap 22.12). Há quem pense que receberemos algo palpável, um objeto lindo, de ouro, ou uma coroa cravejada de pedras preciosas. Mas eu continuo perguntando: o que será que receberemos? Enfim, é mais lógico pensar que não receberemos objetos. Estaremos nas mansões celestes, e nossos objetivos não serão riquezas que a traça ou a ferrugem possam consumir, mas objetivos espirituais e eternos.
                Não pense que o Justo Juiz irá levar em conta nossos títulos terrenos, como pastores, pregadores, cantores, teólogos, missionários etc. Ele procura fidelidade e glorificação dos seus bons servos (Mt 25.21). Títulos não garantem galardão, muito pelo contrário, podem diminuir as obras a serem julgadas por Ele, porque grande parte das boas obras recebem a sua recompensa aqui mesmo, através de homenagens, elogios etc.
                Ao lermos o texto registrado em 1 Cor. 3.10-15, entendemos que há uma classificação para cada obra realizada na terra. Essas obras passarão pelo fogo consumidor, e as que permanecerem serão aceitas por Jesus; as que se queimarem, não resultarão em recompensa alguma. Prata, ouro e pedras preciosas correspondem ao trabalho feito com humildade e temor, para a glória de Deus (1 Cor 10.31). Madeira, feno e palha correspondem às obras feitas por vaidade, egoísmo para atrair honra para nós mesmos (Mt 6.2,5).
                Nesse tribunal, todo cristão será julgado. Portanto, eu e você estaremos na cadeira do réu. O Juiz é o próprio Senhor Jesus, e as testemunhas serão as nossas obras. Fico imaginando o que as testemunhas dirão a favor ou contra nós. O que os pensamentos irão dizer sobre mim? O que as palavras dirão? Será que os atos ocultos da minha vida são prata e ouro, ou madeira e feno?
                Eu creio que haverá muitas surpresas, talvez eu tenha feito algo de bom para alguém que eu nem saiba ou nem lembre mais, mas talvez eu tenha falado uma frase que não foi para a glória de Deus, e isso será julgado contra mim. Por isso eu peço a Deus que no tribunal o julgamento seja pessoal, somente eu e Ele. Sabe por quê? Eu não quero que você saiba sobre as minhas obras más. Se se tratasse somente das obras boas, eu não teria medo. Mas acontece que somos humanos, somos falhos, e todos teremos obras que servirão para a nossa vergonha, obras que não agradaram a Deus. Sabe aquilo que você faz de bom para alguém e depois expõe nas redes sociais? Isso se queimará, porque já recebemos a recompensa dos homens no momento da publicação.
                Naquele dia não acontecerá o que em alguns casos acontece na justiça terrena. Não haverá compra de testemunhas, não haverá suborno para o julgador, tudo será verdadeiro. Aquele que tudo vê, inclusive a intenção do coração, estará julgando. Nada fugirá ao seu controle. Quem poderá enganar o Justo Juiz? Quem poderá subornar o Poderoso Deus? Não haverá jeitinho brasileiro, não haverá um discurso que possa mudar o pensamento do julgador, não haverá tempo para fazer diferente, mas a totalidade dos nossos atos serão expostos e serão julgados com verdade.
                Mas também é no tribunal de Cristo que os crentes fiéis saberão que valeu a pena suportar as aflições, as perseguições, as lutas, as calúnias, os desertos que serviram para glorificar o nome do Senhor através de nossas vidas. É lá que a nossa fidelidade, que por vezes é sem valor aqui, fará a diferença.
                Por isso eu digo a você, leitor, mesmo que o teu trabalho não seja reconhecido pelos homens, mesmo que ninguém te agradeça pelo que faz pela obra de Deus, lembre-se, o teu trabalho não é vão no Senhor. No momento de receber o teu galardão das mãos do nosso Senhor Jesus, você será a pessoa mais feliz do universo, porque você venceu, você está prestes a entrar para as Bodas do Cordeiro, e viverá para sempre com Deus.
                Deus seja louvado!
Pr. Leandro Silva

quarta-feira, 13 de março de 2019

A Hermenêutica Brasileira Deformada


É certo que a igreja brasileira vive um momento delicado no quesito teologia. Principalmente porque a internet tem feito proliferar um evangelho que mais se parece com quadros de humor, difundindo heresias que muitas vezes são levadas aos púlpitos.
                A Bíblia sagrada registra, no livro de Oseias 4.6: “O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento”. Essa afirmação nunca foi tão atual. Em todos os cantos do nosso País, facilmente constatamos uma igreja desinteressada em ler, entender e se aprofundar na Palavra do Senhor. E é aproveitando essa falta de conhecimento do povo que muitos falsos ministros do Evangelho, a partir de suas próprias interpretações, ensinam heresias e levam a igreja a se perder no caminho.
                Além disso, presenciamos uma desenfreada corrida ao poder, descaracterizando o verdadeiro chamado espiritual, o que provoca o interesse de muitos em se tornar conhecedores da Bíblia a todo custo para poder tornar-se líderes espirituais de uma fração da igreja.
                Com isso crescem os cursos teológicos com promessa de formação de “pastores”. E os “mestres” que idealizam e ensinam nesses cursos aproveitam-se desse grande contingente de buscadores de conhecimento para difundirem suas ideias, heresias e doutrinas descabidas. Munidos desse falho conhecimento, propagadores desse falso evangelho estão desencaminhando a igreja brasileira. Isso se comprova pelos dados estatísticos indicando o expressivo número de igrejas fundadas no Brasil nos últimos anos.
                Está registrado em 2 Timóteo 4.3: “Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências”. Apesar de sabermos que Deus está no controle de todas as coisas, Ele tem permitido que isto aconteça, pois o tempo é chegado, e através desta hermenêutica deformada, cristãos estão em busca de pessoas que falem somente o que lhes interessa, não suportam ouvir a Verdade que liberta, mas fogem das pregações que possam lhe abrir o entendimento.
                O povo evangélico brasileiro precisa acordar dessa dormência, aplicar em sua vida cristã a hermenêutica reformada, que trouxe o real conhecimento da Palavra de Deus, dando valor à sua história, pois é a única regra infalível de interpretação. É o caminho certo e mais curto para se voltar ao verdadeiro evangelho de Cristo Jesus e, consequentemente, alcançar a vida eterna.
Pr. Leandro Silva