sexta-feira, 24 de maio de 2019

Oportunidade dispensada



Ao lermos o primeiro livro de Samuel, a partir do capítulo 24, encontraremos o relato de duas ocasiões em que Davi teve a oportunidade de tirar a vida de Saul, seu rei e sogro.
O atrito entre ambos já vinha de algum tempo, mas a partir desse capítulo se intensificou. Davi foi delatado pelos zifeus, e Saul arregimentou seus soldados (um número de três mil) para perseguir Davi e seus companheiros. A ordem era uma só: matar.
Para quem conhece a história bíblica, não é difícil entender que a morte de Saul daria o reino a Davi. Na verdade havia muita coisa a ser conquistada por Davi e, consequentemente, perdida por Saul. É nesse ponto que quero comentar uma das lições da vida de Davi que devemos aplicar em nossas vidas também.
Estamos vivendo dias em que as pessoas buscam espaços e oportunidades para subir na vida a todo custo, seja subindo degraus pelo próprio esforço, seja tomando o lugar de alguém. Modernamente, parece que todas as atitudes que tomamos precisam ter algo por trás no sentido da obtenção de alguma vantagem pessoal ou mesmo patrimonial. Uma amizade sincera é algo raro. De regra os interesses pessoais sempre falam mais alto. Já se tornou normal uma pessoa aproximar-se da outra apenas com o objetivo de conquistar algo, de buscar um favor ou uma porta para o sucesso. Ajudar quem não dá nada em troca está fora de cogitação. Quando uma pessoa consegue subir na vida, menosprezar e até zombar dos que duvidaram da sua capacidade de galgar uma posição de destaque representa a melhor parte da vitória.
Então me pergunto: será que a Bíblia nos dá o direito de agir dessa forma?
Saul forjou em seu coração vários motivos para tirar a vida de Davi. Sentia grande inveja pelo fato de Davi ter sido ungido por Samuel, o que fatalmente levaria à sua queda como rei. Então passou a agir com todas as forças para evitar que Davi tomasse o seu lugar. Nutria também um sentimento de ciúme desmedido porque o povo demonstrava grande amor por Davi, o que não mais constatava em relação à sua pessoa. Saul não admitia ficar em segundo plano.
Saul não entendia e não admitia, mas paralelamente havia algo extraordinário acontecendo. O plano de Deus na vida de Davi. O plano de Deus na vida do homem provoca as mais variadas consequências. Pessoas que diziam te amar e querer o teu bem, que precisam de você para muitas coisas, quando ficam sabendo que Deus tem um plano em tua vida, dão as costas, passam a ver em você apenas os defeitos (que todo ser humano tem). Quando sabem que você está prestes a ser abençoado por Deus e ter um ministério profícuo, os mesmos “amigos” passam a encontrar motivos de sobra para tentar acabar com teus sonhos, abortando teu ministério.
Não é necessário fazer nenhum mal; o simples fato de Deus começar um projeto através de ti, basta. Saul queria a morte de Davi, mesmo ele não cometendo nada contra o rei. Em Samuel 24.11 ele diz: “vê que não há nada na minha mão, nem mal nem rebeldia alguma, e que não pequei contra ti”. Três mil homens o perseguindo sem que tivesse levantado um dedo contra Saul.
É triste quando você sabe que aquele que quer o teu mal consegue reunir pessoas para lutar contra você. Mas é confortante saber que o plano de Deus, no final, sempre se cumprirá. Foi assim com Davi. Para vergonha de Saul, mesmo procurando todas as maneiras para tirar a vida de Davi, ele não conseguiu, e isso por um exclusivo motivo: Deus tinha um plano na vida de Davi.
Aos olhos humanos Davi tinha muitos motivos para aproveitar a ocasião e colocar um ponto final na sua fuga. Porém aquele que serve a Deus tem discernimento. Davi conhecia o Deus dos céus e suas leis, entendia que existem coisas que nós, seres humanos, devemos fazer, e existem coisas que só Deus tem o direito e o poder de fazer.
Davi deixou muito claro esse conceito quando, após cortar um pedaço da orla do manto de Saul, conseguiu vencer a tentação. Ele tinha discernimento, conhecia as leis de Deus, ele sabia que no momento de Deus ele chegaria onde Deus queria. Nesse caso, ele não deveria intervir no projeto de Deus. Aliás, ele se arrependeu inclusive de ter cortado o pedaço do manto do seu rei, entendeu que o mínimo mal que façamos ao nosso semelhante deve nos deixar com o coração pesaroso. Se isso não acontece é porque nossa consciência está cauterizada. Mas mesmo para nossos inimigos? Sim. A Bíblia nos ensina que devemos orar por eles.
O segundo encontro que Davi teve com Saul, a segunda oportunidade de tirar a vida do seu rei, nos traz uma lição importante. O seu servo Abisai lhe disse: “Deus te entregou hoje nas mãos o teu inimigo”, aproveita. Mais uma prova de que Davi era consciente, estava com muitos problemas, sendo perseguido, tinha promessas a serem cumpridas na sua vida, mas continuava tendo comunhão com Deus, sabia quando a oportunidade vinha de Deus ou do diabo.
O inimigo sempre tenta nos desestabilizar. Veja como ele armou para Davi. E se Davi tivesse aproveitado a oportunidade, talvez a promessa teria atrasado, ou talvez nem se concretizasse. Mas Davi soube discernir que aquele cenário, a ocasião não fora montada por Deus, e sim pelo inimigo. O Diabo arruma o cenário quando quer que pequemos contra Deus ou contra nosso semelhante.
Precisamos estar sempre vigiando para não cairmos no laço do inimigo. Toda vez que, para alcançar nossos objetivos, precisarmos cometer um pecado, um erro, temos a certeza de que não é Deus, mas o Diabo que está nos armando o laço.
Deus é quem dá a vida, e somente Ele tem poder para tirá-la. Pode você estar passando por problemas, perseguições vindas através de alguém chegado a ti, talvez da família, da igreja a qual congrega, mas não abra mão do teu caráter, não levante a mão contra ninguém, mesmo que você esteja em melhor situação, mesmo que o controle da situação esteja contigo, não use as oportunidades para ferir, matar ou humilhar quem quer que seja. Você precisa ser forte para vencer a tentação. Tenha consciência como teve Davi, que podia ter cortado a cabeça de Saul, mas preferiu cortar apenas a orla do manto.
Saiba que você só prova quem é e onde a tua fé está firmada quando você mostra o que tem nas mãos, diante das oportunidades. A orla prova que você é um ser transformado, que deixa tudo nas mãos de Deus; a cabeça de alguém prova que continua sendo dominado pela natureza pecaminosa.
Davi não matou Saul por impedimento de alguém, mas porque temia a Deus. Talvez alguém pode te dizer que você é covarde por ter agido como Davi, não aproveitou a ocasião, não tem objetivos. Mas eu posso te dizer que aquele que vence a tentação é porque está fortalecido em Deus, é porque confia na justiça divina e aguarda o momento de Deus, e o momento de Deus é o mais seguro para nós. Quando surgir ocasião como essa que você pode usar para teu sucesso, faça como Davi, chama teu irmão, dá um abraço, baixa a guarda e diga como Jesus falou, “Pai, perdoa, porque eles não sabem o que fazem”.

Pr. Leandro Silva

terça-feira, 7 de maio de 2019

Como nos dias de Noé


                Durante o sermão profético, registrado no livro de Mateus, Jesus lembra os tempos de Noé (Mt 24.36-44), quando exorta os seus discípulos à vigilância. O Mestre faz um paralelo entre os dias que se aproximam do arrebatamento com a época em que Noé construíra a arca.
                Analisando bem o texto, podemos nele enquadrar a maioria dos cristãos atuais. Todos creem no arrebatamento, entretanto não acreditam que somente serão arrebatados os que estiverem vigilantes e preparados para o momento mais importante da igreja, e, se acreditam, suas atitudes não reforçam essa ideia. Basta observar suas vidas, suas redes sociais, seu vocabulário e a forma como se comportam na igreja, quando vão.
                Naqueles dias havia algo que impediu que o povo acreditasse na mensagem de Noé. Não por acaso Jesus associou aquele acontecimento com o arrebatamento. Os livros teológicos apontam quatro motivos que levam à descrença na mensagem de Cristo, tornando o modo de vida dos crentes atuais muito semelhante ao comportamento do povo nos dias do dilúvio. São eles: carnalidade, mundanismo, ignorância humana e falta de prontidão.
                Carnalidade corresponde aos apetites do corpo, ou seja, a tudo o que se contrapõe ao que é espiritual. Ser carnal é estar em uma posição antiespiritual, que separa o homem de Deus. Carnalidade também é a sensualidade e lascívia. Essas coisas têm tirado muitas pessoas da presença de Deus, seja pelo modo de agir, vestir ou pensar, muitas vezes sem achar que está errado perante Deus.
                O mundanismo, muito falado nos púlpitos das igrejas, é a perda dos valores cristãos e a pressão sofrida pelos crentes à ilusão do secularismo que, através de conceitos, comportamentos e práticas anticristãs, tem se infiltrado na igreja, fazendo com que os cristãos sejam influenciados pelo mundo, quando deveria ser ao contrário. O secularismo no simples modo de pensar é um estilo de vida que se inclina para o profano, deixando de lado o que é sagrado.
                A ignorância humana é a falta de entendimento daquilo que se conhece; não é que o homem não saiba, mas é o agir como se não soubesse. Significa simplesmente ignorar que o arrebatamento um dia acontecerá, mesmo conhecendo as profecias.
                A falta de prontidão é o descaso, a falta de preocupação. Para sermos bons soldados, precisamos estar sempre em prontidão. Lembremo-nos das virgens loucas da parábola de Jesus. Elas estavam com as prudentes, porém despreparadas, até que chegou o momento em que o tempo acabou.
                Nos dias de Noé, os homens eram insensíveis às profecias. E o que vemos na atualidade? Tudo o que se refere à volta de Jesus é ignorado, porém qualquer profecia que aponte uma melhora na vida terrena, como bênçãos financeiras, bênçãos ministeriais ou sucesso no casamento, é muito bem vinda. Essas coisas são boas, são excelentes e não são pecado, mas estão tirando o foco principal, que é a preparação, a vigilância.
                O versículo 38 nos leva a entender que havia uma falta de respeito à mensagem de Noé. Mesmo ouvindo a pregação, o povo continuava na carnalidade, no mundanismo, e ignorando suas palavras. Não havia temor, não aceitavam a repreensão.
                Nesta semana circulou uma frase nas redes sociais que dizia: “No passado o pastor pregava a verdade e as pessoas mudavam de vida; hoje elas mudam de igreja”. Isso define muito bem o que acontecia nos dias de Noé.
                O teor do versículo bíblico que mencionei acima registra que as pessoas “comiam, bebiam, casavam-se e davam-se em casamento”. Então pergunto, qual o erro dessas práticas? Onde está o pecado ao comer, beber e se casar? A mensagem que Jesus queria passar era de que eles estavam vivendo uma vida normal e secular, ignorando a Deus e as palavras de Noé. Parece que seria mais lógico se Jesus tivesse dito que enquanto Noé construía a arca o povo matava, roubava e se prostituía. Porém Jesus quer nos dizer que apenas levar uma vida normal significa não estar preparado. O Senhor exige mais do que levar uma vida normal, apenas não cometendo pecados. Exige que estejamos vigilantes, tendo comunhão com Deus. São as práticas que achamos não ser pecado que estão nos tornando crentes mundanos e carnais.
                Vivemos tempos em que as coisas lícitas estão nos destruindo, e nós achamos correto. A terra estava cheia de violência, de crimes hediondos, assim como acontece hoje. Aliás, nós criamos níveis de pecados, nos autoenquadramos em menos pior, melhor que os outros, nem tão pecador, e achamos que assim seremos salvos. Ficamos na dependência da misericórdia de Deus, da bondade de Deus, e esquecemos que Deus é justo, e que no céu não entra pecado.
O versículo 39 diz que “eles não perceberam”. Até quando congregaremos com pessoas desapercebidas? Que estão há três ou quatro décadas dentro da igreja, perdendo tempo, perdendo os prazeres do mundo, e não alcançarão o gozo eterno? A vergonha de confessarem seus erros é que os tornaram céticos.
É preciso alertar essa geração que cultua conosco, evangeliza conosco, chora conosco, mas segue destino eterno diferente. O arrebatamento será surpreendente, assim como aconteceu no dilúvio. Talvez houvesse pessoas que acreditassem, entretanto, por não estarem preparadas, foram levadas pelas águas.
Ainda há tempo. Deixe de lado tudo o que te distancia do Senhor, esteja preparado, pois a porta da arca ainda está aberta.

Pr. Leandro Silva